Sonhando em ser reconhecido em sua comunidade, um jovem cientista descobre uma forma de transformar água em comida. No entanto, ao tentar melhorar sua escala de produção, acaba perdendo sua grande invenção pelos ares. Basicamente, este é o enredo da animação Cloudy with a chance of meatballs, título original de Tá Chovendo Hambúrguer. Porém, dez anos após o lançamento da produção, a mistura de fantasia e ficção científica ganha contornos de realidade. Afinal, cientistas e startups já apostam em carnes sintéticas e comida impressa em 3D criadas em laboratório. Ainda que possa não parecer uma ideia muito apetitosa, o objetivo principal é o de tornar a alimentação mais sustentável.
A estratégia é baseada nos dados sobre a população mundial, hoje formada por 7,7 bilhões de pessoas. Enquanto isso, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura projeta que, em 2050, sejamos 10 bilhões. Logo, para ser suficiente, a produção de comida terá de se tornar 70% maior do que a atual. Ao mesmo tempo, ela não poderá gerar tantos impactos ao meio ambiente, situação que já precisa ser contornada agora. Ou seja, rever a forma de alimentação humana é um ato extremamente necessário, urgente e relevante.
A relação entre mudanças climáticas e alimentação
Em agosto, a ONU divulgou seu mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Conforme o documento, dietas baseadas em proteína animal estão contribuindo com o desmatamento de importantes biomas do mundo. Entre eles, a Amazônia, que é a maior floresta tropical do mundo. Dessa forma, o relatório defende uma alimentação mais rica em vegetais. Isso não significa, porém, que se deva obrigatoriamente adotar uma dieta vegana ou vegetariana. No entanto, fazer algumas adaptações e escolhas mais saudáveis podem refletir inclusive em sua qualidade de vida.
Alguns exemplos práticos desta nova dieta
A principal aposta da indústria é o desenvolvimento de carnes à base de plantas e mesmo de células animais. A ideia é que os alimentos tenham sabor, textura e qualidade nutricional idênticos aos da carne tradicional. Aliás, em 2018, a Merck – empresa alemã de ciência e tecnologia – investiu 7,5 milhões de euros na startup Mosa Meat. Fundada pelo cientista Mark Post, em 2013 a empresa apresentou o primeiro hambúrguer de laboratório do mundo.
O alimento foi criado a partir de células-tronco de uma vaca, transformadas em pasta de carne por um biorreator. A perspectiva é de que em 2050 a carne biofabricada possa ser vendida diretamente ao consumidor por 20 dólares/kg.
Enquanto isso, hambúrgueres à base de plantas já podem ser encontrados a preços bem acessíveis. Nos EUA, duas empresas estão ganhando destaque neste setor. Uma delas é a Beyond Meat, que faz hambúrguer de óleo de coco, romã e beterraba. Inclusive, ela foi a primeira a disponibilizar o produto nos supermercados do país, ainda em maio de 2016. Em julho do mesmo ano, a Impossible Foods também lançou um hambúrguer de plantas e inovou ao fazê-lo “sangrar”. Entre os ingredientes estão proteína isolada de soja, proteína de batata e óleos de coco e girassol.
O sabor e o aspecto vermelho vêm da leg-hemoglobina de soja, uma proteína encontrada na raiz de leguminosas. Assim, em agosto, o Burger King anunciou nos EUA uma versão do sanduíche Whopper feita com o Impossible Burger. No Brasil, a novidade também está sendo testada com o Rebel Whopper, disponível inicialmente em 58 lojas de São Paulo. Porém, no território brasileiro, a parceria da rede foi estabelecida com a Marfrig.
Afinal, a gigante da indústria da carne acaba de entrar para o time dos fabricantes de produtos baseados em plantas. Ao que tudo indica, a biofabricação de carne pode ser o futuro – ou um dos futuros possíveis – da alimentação sustentável.
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